Exame entrevista Paulo Gontijo sobre futuro do Livres

Paulo Gontijo é presidente nacional do Livres

4/15/2018

paulo gontijo presidente nacional do livres homem branco de terno com dizeres na imagem
paulo gontijo presidente nacional do livres homem branco de terno com dizeres na imagem

Nosso presidente Paulo Gontijo respondeu a 7 perguntas da revista Exame, falando sobre nossa experiência de incubação no PSL e os planos para o Livres nesta nova fase como movimento suprapartidário.

7 perguntas para o Livres, que deixou o PSL após filiação de Bolsonaro

Movimento com proposta liberal abandonou o PSL após entrada de Bolsonaro e, agora, testa novos meios para influenciar a política além das eleições

Dos grupos criados nos últimos tempos com o propósito de renovar o sistema político e partidário brasileiro, o Livres parece ter sido aquele que mais experimentou o peso da lógica que ainda impera nas relações políticas brasileiras.

Enquanto outros movimentos tentaram uma via mais independente e suprapartidária, o Livres nasceu com o propósito de ser uma espécie de “startup” de renovação dentro do Partido Social Liberal (PSL). O acordo, segundo o grupo, era claro: quanto mais apoio conseguisse, maior seria seu espaço dentro do partido.

O acordo foi cumprido de 2016 até janeiro de 2018, quando a liderança nacional do PSL anunciou que o deputado federal Jair Bolsonaro, que está em segundo nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, seria o candidato presidencial do partido.

Naquele momento, o Livres comandava 12 dos 27 diretórios estaduais da sigla. “Sempre quisemos criar um partido que fosse liberal tanto nos costumes quanto na economia. Não achamos que o Bolsonaro é liberal nem na economia, nem nos costumes”, diz Paulo Gontijo, atual presidente nacional do movimento.

A solução foi romper com o partido. Dos 12 diretórios antes comandados pelo movimento, somente um continuou no PSL. Ao Livres restou uma nova estratégia: não se unir a nenhuma outra legenda e alargar o propósito de renovação política para além das metas eleitorais. Entre as propostas está a formação de lideranças tanto políticas quanto sociais, criação de projetos e divulgação dos princípios defendidos pelo movimento.

Para as eleições deste ano, ao menos Rondônia e Sergipe terão candidatos ao governo estadual que são membros do Livres. Nos outros estados, haverá candidaturas aos legislativos estadual e federal — mas o número ainda não foi definido.

Os postulantes a um cargo eletivo estão liberados para se filiar a qualquer partido, com exceção das legendas mais à esquerda e do PSL, é claro. Gontijo, que mira a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, por exemplo, vai se lançar pelo PPS. Augusto Peluccio é pré-candidato ao governo de Rondônia pelo Podemos.

O compromisso dos membros é respeitar os 17 princípios defendidos pelo Livres.

De todos os principais movimentos de renovação política, o Livres é aquele que mais se alinha ao discurso liberal. Ao contrário de outras iniciativas, o grupo não se limita a propostas liberais apenas na economia, mas também defende a liberdade nos costumes com o apoio, por exemplo, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Veja trechos da entrevista que Paulo Gontijo concedeu ao site EXAME:

EXAME: Enquanto todos os movimentos de renovação política se declaravam independentes, por que o Livres decidiu ser uma startup dentro de um partido?

Paulo Gontijo: A gente tinha a ideia original de que iríamos conseguir reformar o PSL de dentro. Tínhamos um acordo de que se conseguíssemos crescer, iríamos ganhar mais espaço. Fomos crescendo e ganhando espaço, até um momento em que não fomos mais convenientes.

Para quem não foi mais conveniente?

Para a presidência do PSL. A partir do momento em que nosso projeto de constituir uma bancada nova renovava, de fato, o partido, eles optaram por trazer o Bolsonaro para dentro da sigla sob o risco de jogar esse trabalho fora.

Por que a entrada do Bolsonaro foi um problema para o movimento?

A gente sempre quis criar um partido que fosse liberal tanto nos costumes quanto na economia. A gente não acha que o Bolsonaro é liberal nem na economia, nem nos costumes. O problema é ideológico. E a condução de todo o processo foi feita de uma forma muito pouco transparente. Soubemos da entrada do Bolsonaro quando saiu uma nota para a imprensa. Não concordamos com esse jeito de fazer política e não acho que seria coerente ficar nessas circunstâncias.

O que essa atitude mostra sobre a política partidária no Brasil?

Mostra que o poder é muito concentrado na presidência dos partidos, que os mecanismos de controle não existem, que há muita pouca transparência e uma cultura de pegar um trabalho constituído e simplesmente descartá-lo ao sabor das conveniências do momento.

Qual é a estratégia a partir de agora?

O Livres está se considerando um movimento suprapartidário, o que significa que não vamos para nenhum outro partido. Vamos nos focar em tentar renovar a política através de ideias e lideranças. A gente sai do campo eleitoral e fica no campo da sociedade como um todo.

A partir de agora, vamos promover nossas ideias e qualificar os membros do Livres para que eles sejam boas lideranças, seja como empreendedores sociais ou quadros políticos. A gente quer instituir projetos. Estamos estudando dois projetos que são importantes para nós: adaptação dos refugiados em Roraima e um trabalho de empreendedorismo em populações carcerárias.

Como será a relação com os membros do Livres que se candidatarem nestas eleições?

O que a gente faz é preparação de lideranças: preparamos os membros do Livres para, independente da escolha deles de serem candidatos ou simplesmente lideranças políticas não eleitorais, que eles sejam capacitados e apoiados.

A gente não vai entrar em bloco em partidos. A gente liberou a base, desde que os membros não se filiem aos partidos mais extremos como PT [ou os demais partidos mais] a esquerda e o PSL na extrema-direita.

Por que, a princípio, a visão de estar dentro de um partido parecia mais efetiva do que a de ser um movimento suprapartidário?

Tem prós e tem contras. Quando você está dentro de um partido, tem-se acesso a algumas ferramentas legislativas que tornam a sua ação política mais efetiva. Claro que a partir do momento em que você está dentro de um partido, há um grande descrédito da sociedade com relação a você.

Uma coisa interessante que aconteceu após a saída do PSL, e por que saímos para manter nossa integridade, foi que passamos a ser muito mais bem aceitos e ter muito menos desconfiança da sociedade sobre nossas propostas e motivações. Ganhamos liderança em novos estados, muitos intelectuais toparam se juntar ao projeto e colaborar gratuitamente para isso. A ação política fica mais indireta, mas, por outro lado, a gente ganhou em respeito, prestígio e novos quadros.