Pequeno Guia sobre John Stuart Mill

Série "Pequeno Guia" apresenta grandes nomes do liberalismo em poucos minutos de leitura.

Quem foi John Stuart Mill?

John Stuart Mill nasceu em Londres, em 1806. Filho de James Mill, foi educado nas bases da filosofia utilitarista. Desde cedo, teve uma formação direcionada para fazer de Mill um gênio. Isso garantiu a ele o acesso precoce a obras clássicas, como os textos de Heródoto e Platão.

Ao longo da vida, Mill se destacou por obras como Sobre a Liberdade, Princípios da Economia Política, Sobre a sujeição das mulheres, Considerações sobre o governo representativo, e Utilitarismo. Foi profundamente influenciado por Harriet Taylor, a quem dedicou parte da sua obra e grande parte do amor que pode dar a outra pessoa. Foi, em parte influenciado por Taylor, um grande defensor dos direitos das mulheres.

Influenciado por Tocqueville, Mill adotou um respeito profundo pela ideia de um civismo público e a ideia de que a participação democrática tem um grande valor para a formação das pessoas. Mas, apesar de incorporar os alarmes de Tocqueville ao despotismo social em contraponto ao político e a necessidade de uma democracia participativa, não tinha as mesmas inclinações religiosas e o verniz aristocrático do autor francês. As ideias de Mill, ao longo de toda a sua vida, foram muito mais progressistas do que a do sociólogo da democracia.

Stuart Mill era um liberal pessimista. Mas isso não o impediu de pensar ideias progressistas e direcionadas para os menos favorecidos da sociedade. Foi preso por fazer propaganda a favor do controle de natalidade e propôs a reforma agrária e cooperativa de produtores para democratizar a propriedade. Ainda que, em alguns instantes, defendesse propostas polidas de elitismo, o seu liberalismo não pode deixar de ser visto como a ponte entre o liberalismo clássico e o liberalismo social.

Por que John Stuart Mill é relevante?

Em poucas palavras, Mill define que somente a autoproteção pode ser utilizada como motivo para a interferência nas ações alheias. Em outras palavras, tudo é permitido ao indivíduo, desde que as suas ações não causem danos a terceiros.

Há também, para Mill, legitimidade no uso da opinião pública para convencer pessoas a não tomarem determinadas medidas, como é o caso das campanhas contra o uso excessivo de álcool. Mas, ainda assim, ninguém poderá ser reprimido diretamente por fazer ações que afetam apenas a sua vida.

Era um liberalismo utilitarista, hoje em dia não bem visto por muitos companheiros da defesa da liberdade. Mas era, também, um liberalismo apaixonado por criar as condições para um desenvolvimento humano completo e autônomo.

Ao longo de sua vida, Stuart Mill não abandonou a sua repulsa à um ideal de tecnocracia autoritário comtiano. Envolto no otimismo com as revoluções de 1848, o seu liberalismo se tornou mais progressista e próximo das esquerdas. Duas décadas depois, publicou “Sobre a Liberdade e A sujeição das mulheres”, uma das primeiras obras que defendiam um ideal maior de autonomia feminina.

John Stuart Mill uniu diferentes forças do liberalismo

O texto de Sobre a Liberdade é tradicionalmente conhecido pela defesa que Stuart Mill acerca da liberdade de expressão. Valor absoluto para o filósofo, ela abria espaço até para ideias consideradas imorais ou falsas. Afinal, ao contrário de outros utilitaristas, Mill fundamenta a sua defesa da liberdade de expressão não no combate à tirania, mas sim na busca por caminhos que permitam o desenvolvimento humano.

Acreditar que opiniões devam ser censuradas é acreditar na infalibilidade de uma ideia. E, ainda que ela esteja certa, se opor ao contraditório é deixar de validar a sua autenticidade. Afinal, como o autor aponta, “nunca podemos ter certeza de que seja falsa a opinião a qual tentamos sufocar; e, se tivéssemos certeza, sufocá-la seria, ainda assim, um mal.”

A única maneira de garantir que uma opinião é a correta se dá pela discussão com opiniões contrárias. O debate livre tem como base o reconhecimento de que todas as crenças da humanidade são provisórias e estão sujeitas a revisões. Ao limitar que um pensamento seja expressado, ainda que ele seja minoritário, podemos correr o risco de sufocar outras verdades e impedir o progresso da humanidade.

Saiba mais sobre John Stuart Mill

  • Podcast: In Our Time, da BBC, sobre utilitarismo e o pensamento de Mill.

  • Livro: Sobre Liberdade, a introdução de Isaiah Berlin sobre Stuart Mill na tradução brasileira publicada pela editora Martins Fontes.

  • Livro: John Stuart Mill & A Liberdade, de Mauro Cardoso Simões.