Pequeno Guia sobre Mary Wollstonecraft

Série "Pequeno Guia" apresenta grandes nomes do liberalismo em poucos minutos de leitura.

Quem foi Mary Wollstonecraft?

Apesar da curta vida e do ambiente escasso para o sucesso intelectual feminino, Mary Wollstonecraft (1759 – 1797) deixou uma obra densa, que selou as bases da luta pelos direitos da mulher.

Londrina, de uma família rica que acabou por encontrar a pobreza através das despesas do pai, Edward John Wollstonecraft, Mary começou a trabalhar cedo para sustentar a si mesma e à própria família.

Como uma mulher de família “respeitável”, a etiqueta inglesa lhe permitia pouquíssimas carreiras. Ocupou os cargos que podia: dama de companhia e governanta. Em nenhum deles encontrou felicidade e anos depois decidiu tentar viver apenas da própria escrita.

Autodidata, aprendeu francês e alemão para poder trabalhar como tradutora. Mais tarde, ficou relativamente famosa por conflitos públicos na imprensa através de debates acalorados com o conservador Edmund Burke a respeito da Revolução Francesa.

Acabou por mudar-se para a França, onde viveu o Terror sob o governo dos jacobinos. Lá, escreveu profusamente, deixando até mesmo uma elogiada Visão Moral e Histórica da Revolução Francesa (1794).

Criou a primeira filha, Fanny, sem ajuda do pai da menina, com quem fugiu da perseguição na França depois da execução generalizada de amigos girondinos e voltou para a Inglaterra a contragosto. Morreu após uma infecção decorrente do parto de sua segunda filha, a futuramente aclamada autora Mary Shelley, criadora de Frankenstein.

Por que Mary Wollstonecraft é relevante?

Mary é considerada hoje a fundadora do feminismo. Aqui, um adendo: como o liberalismo, o feminismo também tem várias correntes e uma histórica intrinsecamente ligada ao desenvolvimento da filosofia liberal.

Os escritos de Wollstonecraft marcam a primeira sistematização conhecida das origens da negação da liberdade feminina. Nesta primeira fase do feminismo, da qual ela é o grande nome fundador, os eixos do direito ao voto, à educação e à propriedade das mulheres eram os nortes da disputa política. No entanto, Mary foi muito mais uma pensadora que ativista, escolhendo por em prática na própria vida as ideias que defendia.

Enquanto esses eixos principais da primeira onda do feminismo já estão relativamente bem resolvidos no aspecto legal na sociedade ocidental, eles ainda afligem a mulher contemporânea. Simultaneamente, outros aspectos de sua obra, como a denúncia da infantilização e irracionalização da mulher, permanecem como pautas maiores do feminismo.

Em “A reivindicação dos direitos das mulheres” (1792), escreveu: “É assim, por exemplo, que a demanda por educação tem por objetivo exclusivo permitir o livre desenvolvimento da mulher como ser racional, fortalecendo a virtude por meio do exercício da razão e tornando-a plenamente independente”.

Na época, até mesmo pares liberais como John Stuart Mill, que teve papel importante como apoiador das sufragistas, tratava o direito da mulher à educação como uma via de produção de melhor companheira para o homem, romantizando-as – tendência evidente em trechos como: “A maior ocupação da mulher deve ser embelezar a vida”.¹

Mary também teve uma visão extremamente matizada sobre a sociedade. Enxergou as dificuldades que uma mulher, principalmente uma mulher sem dinheiro, enfrentava na hora de ser politicamente representada. Décadas depois da sua morte, as abolicionistas brasileiras, organizadas em sociedades de senhoras – ricas, pobres, brancas e negras, cativas ou não -, agregavam à luta abolicionista postulados da primeira feminista liberal.

Saiba mais sobre Mary Wollstonecraft

  • Livro: A reivindicação dos direitos das mulheres, reeditada há 3 anos pela editora Boitempo, em 2015.